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Exercício de português do ENEM de 1998

Para falar e escrever bem, é preciso, além de conhecer o padrão formal da Língua Portuguesa, saber adequar o uso da linguagem ao contexto discursivo. Para exemplificar este fato, seu professor de Língua Portuguesa convida-o a ler o texto “Ai, Galera”, de Luís Fernando Veríssimo. No texto, o autor brinca com situações de discurso oral que fogem à expectativa do ouvinte.




Aí, Galera

Jogadores de futebol podem ser vítimas de estereotipação. Por exemplo, você pode imaginar um jogador de futebol dizendo "estereotipação"? E, no entanto, por que não?
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera.
- Minha saudação aos aficionados do clube e aos demais esportistas, aqui presentes ou no recesso dos seus lares.
- Como é?
- Aí, galera.
- Quais são as instruções do técnico?
- Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de contenção coordenada, com energia otimizada, na zona de preparação, aumentam as probabilidades de, recuperado o esférico, concatenarmos um con-tragolpe agudo com parcimônia de meios e extrema objetividade,  valendo-nos da desestruturação momentânea do sistema oposto, surpreendido pela reversão inesperada do fluxo da ação.
-  Ahn?
-  É pra dividir no meio e ir pra cima pra pega eles sem calça.
-  Certo. Você quer dizer mais alguma coisa?
-  Posso dirigir uma mensagem de caráter sentimental, algo banal, talvez mesmo previsível e piegas, a uma pessoa à qual sou ligado por razões, inclusive, genéticas?
-  Pode.
-  Uma saudação para a minha progenitora.
-  Como é?
-  Ato, mamãe!
-  Estou vendo que você é um, um...
-  Um jogador que confunde o entrevistados pois não corresponde a expectativa de que o atleta seja um ser algo primitivo com dificuldade de expressão e assim sabota a estereotipaçào.
-  Estereoquê?
-  Um chato?
-  Isso.
O texto retraia duas situações relacionadas que fogem à expectativa do público. São elas:
a) a saudação do jogador aos fãs do clube, no início da entrevista, e a saudação final dirigida à sua mãe.
b)  a linguagem muito formal do jogador, inadequada à situação da entrevista, e um jogador que fala, com desenvoltura, de modo muito rebuscado.
c)  o uso da expressão "galera", por pane do entrevistador, e da expressão "progenitora", por parte do jogador.
d)  o desconhecimento, por parte do entrevistador, da palavra "estereotipaçào", e a fala do jogador em "é pra dividir no meio e ir pra cima pra pega etes sem calça".
e)  o fato de os jogadores de futebol serem vítimas de estereotipaçào e o jogador entrevistado não corresponder ao estereótipo.
Resolução
A expectativa geral em relação a um jogador de futebol corresponde ao estereótipo mencionado no final do texto: "um ser algo primitivo com dificuldade de expressão", ou seja, alguém que dispõe de repertório cultural mínimo e se exprime de maneira tosca, elementar. O jogador representado no texto contraria essa expectativa, ao exprimir-se num português castiço e rebuscado, com vocabulário e sintaxe que fogem completamente até mesmo aos hábitos da linguagem oral mais educada.
O texto mostra uma situação em que a linguagem usada é inadequada ao contexto. Considerando as diferenças entre língua oral e língua escrita, assinale a opção que representa também uma inadequação da linguagem usada ao contexto:
a)  "o carro bateu e capoto, mas num deu pra vê direito" - um pedestre que assistiu ao acidente comenta com o outro que vai passando.
b)  "E ai, ò meu! Como vai essa força?" - um jovem que fala para um amigo,
c)  "Só um instante, por favor. Eu gostaria de fazer uma observação" - alguém comenta em uma reunião de trabalho.
d)  "Venho manifestar meu interesse em candidatar-me ao cargo de Secretária Executiva desta conceituada empresa" - alguém que escreve uma carta candidatando-se a um emprego.
e)  "Porque se a gente não resolve as coisas como têm que ser, a gente corre o risco de termos, num futuro próximo, muito pouca comida nos lares brasileiros" -um professor universitário em um congresso internacional.
Resolução
No texto transcrito na alternativa e, o contexto de um congresso académico pediria o emprego de linguagem formal, correspondente ao padrão culto da língua. No trecho apresentado, fogem a esse padrão tanto o uso de "a gente" como pronome indefinido (uso típico da oralidade informal), quanto a concordância por silepse desse pronome, que é singular e de 3' pessoa, com a forma verbal "termos", plural e de 1ª pessoa.

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